ESG e o mercado de logística

Você já deve ter ouvido falar: ESG vem do inglês Environmental, Social and Governance (Meio Ambiente, Social e Governança), e seu funcionamento relaciona a atuação empresarial com a redução de impactos negativos no meio ambiente, a responsabilidade social e a implementação de processos administrativos éticos e transparentes.

O termo ESG foi criado em 2004, em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins, após uma provocação do secretário-geral da ONU Kofi Annan às 50 principais instituições financeiras do mundo para buscar maneiras de integrar fatores ambientais, sociais e de governança aos mercados de capitais. 

No setor logístico em especial, o ESG envolve investir em formas de armazenagem, distribuição e transporte sustentáveis, em uma gestão de pessoas responsável e em diálogos constantes com as comunidades envolvidas nas operações de um negócio.

Assim, falar de ESG em empresas de logística inclui atuar para:

  • Reduzir a emissão de gases que causam o efeito estufa
  • Otimizar a cadeia logística a partir de soluções que automatizam processos
  • Investir em operações de logística reversa
  • Optar por veículos menos poluentes 
  • Melhorar as condições de trabalho de motoristas e operadores, investindo em segurança em toda a cadeia de suprimentos
  • Aplicar soluções de gestão que otimizem tempo, controlem gastos e facilitem a administração de pessoas, valorizando a diversidade nas equipes e combatendo qualquer forma de discriminação
  • Reduzir os impactos negativos das operações nas comunidades
  • Buscar uma administração ética, transparente e com responsabilidade social
  • Apostar no uso otimizado de recursos, como água, energia, papel e combustível
  • Elaborar políticas anticorrupção, normas de proteção de dados, código de conduta, análises e metas para o cumprimento das ações ESG

Relevância

“Tratar operações de logística de acordo com os critérios ESG traz otimização de processos, redução de custos e atenção do mercado financeiro, incluindo os fundos de investimento. Uma cadeia de suprimentos alinhada com boas práticas ambientais, sociais e de governança é estratégica para a empresa e para o mercado como um todo”, avalia o CEO da TX, Sandro Marcio Viturini.

Não é à toa que o tema tem sido recorrente entre investidores e em fóruns mundiais de sustentabilidade, como a COP27, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, entre os dias 6 e 18 de novembro de 2022, em Sharm El Sheikh, no Egito. Anualmente, o evento discute os efeitos das mudanças climáticas no futuro do planeta e, este ano, está reunindo mais de 90 chefes de estado e representantes de 190 países.

Nos últimos anos, os pilares ESG passaram a nortear ações e estratégias dentro de organizações dos mais diversos segmentos no mundo inteiro. Mais do que isso, as práticas ambientais, sociais e de governança tornaram-se elementos centrais na definição do valor financeiro das empresas dentro e fora do Brasil.

De acordo com um estudo feito pela consultoria Morningstar, por exemplo, fundos ESG no Brasil captaram ao menos R$ 2,5 bilhões em 2020. Esse tipo de investimento estimula a aplicação de dinheiro em empresas que mantêm a sustentabilidade como foco de suas ações dentro e fora da companhia, além de priorizar valores como ética e inclusão.

ESG em ação

O mercado vê a  implementação do ESG como o compromisso da empresa com a ética e a sustentabilidade, gerando maior confiança nos investidores e maior capacidade no gerenciamento de riscos. 

A especialista em comunicação socioambiental, Daniela Klein,  explica que na prática o ESG, uma versão modernizada do Triple Bottom Line criado pelo economista John Elkington, já vinha ganhando força com a percepção do mercado financeiro de que o risco de empresas sustentáveis é menor e a tendência de lucro maior, mas houve uma aceleração no processo na pandemia.   

“Se a empresa possui licença social, ela tem apoio da opinião pública e um crédito reputacional que indica solidez e pode amenizar possíveis conflitos e crises. Menos risco e mais credibilidade reverte em custos mais baixos e mais lucro. Assim, se você prova que traz ESG no DNA da sua empresa, você pode ter mais acesso a financiamentos e juros menores, por exemplo.  Mas tem que provar, não é só falar que tem. E as provas são métricas, indicadores, metas e evidências palpáveis e bem reais”, destaca.

Ao decidir adotar critérios ESG dentro de uma organização, o empreendedor deve levar em conta também que estamos falando de um conjunto de práticas sustentável contínuas e não de ações isoladas. “Colocar um bicicletário na garagem não é ESG. Fazer uma doação de camisa para o time do bairro não é ESG. Post nas redes sociais dizendo ser contra corrupção não é ESG. Não adianta tentar enaltecer ações isoladas, sem conexão com propósitos, metas e capacidade de medição de resultado. Isso pode ser até prejudicial à imagem da empresa!”.

Daniela aponta ainda que é necessário planejamento, desenvolvimento de ferramentas, políticas, análises de fraquezas e forças para medir riscos e oportunidades, estruturação de programas e definições de governança e procedimentos, definição de compromissos viáveis e métricas ESG e criação da matriz de materialidade, treinamento da equipe, envolvimento de fornecedores, entre outros.

“É preciso ter controle do que se faz e dos resultados para a comunidade e para a empresa, e dar transparência a isso. Um bom instrumento de divulgação é o Relatório de Sustentabilidade anual, utilizando a metodologia GRI. Eu acredito que as empresas de médio porte que não se adequarem e começarem a pensar ESG terão uma corrida insana para não perder clientes. Empresas globais, em geral, já não fazem negócios com quem pode trazer risco às suas operações e já exigem de seus fornecedores que sigam as regras desse jogo. Vai vir uma demanda de baixo para cima e quem não se preparar vai perder”, ressalta.

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